A Chuva dos Anos

…De repente …
a chuva generosa(ou não)
traz uma sensação de repouso (ou tormento)…
toma conta do nosso corpo.
Da uma vontade de ficar em silêncio absoluto
sَ para ouvir o som da chuva,
ou ainda para repetir o velho trecho de conversa

… “ô chuvinha abençoada” …

“Meus Deus mais chuva!”

Mas a chuva também refresca memَórias.

Houve um tempo quando ela era
como uma de nَós, um de nَós

uma moleca nos chamando
para uma brincadeira na rua

ou uma mãe que cantava
docemente uma canção de ninar
no tom e na medida do nosso pedido.

As vezes, porém, ela chegava vigorosa
e soava com um barulho de fim de mundo
…sobre o nosso telhado de alumínio…
…e ainda soa…só que agora… furiosa…

…derruba-os também…

Também, além da cumplicidade,
a chuva nos trazia outras ocupações.

Era época de plantar

cebolinhas, tomates, pimentُões
entre flores conhecidas
…cristas-de-galos…

rosas, cravos vermelhos, onze horas.

Por causa da chuva
retirávamos dos armários nossas sombrinhas
e elas espalhavam suas cores pelas ruas cinzentas.

Hoje a chuva
soa um tanto solitária pelas ruas cheias de carros….
onde o medo começa ao primeiro pingo, forte…
que soa como estilhaço no vidro da vidraça…
é hora de pedir a Deus pelos mais fracos…
e ela chega impiedosa…rápida…

Os anos também correram rápido e nَós crescemos.

Até ela também se avolumou…
sobre o asfalto e amplos pisos de cimento.

No entanto,
nossos anseios por sua presença nمo mudaram
ela dispersa o calor do nosso verمo,
na porção quase perfeita.
Enquanto ela rega jardins
e amolece a terra um pouquinho

faz florir as velhas lembranças.

ah mas agora já é inverno

…e como ele me faz lembrar minha infância

…na sua casa… vozinha…

Saudades!

Deixa chover?

…Não … está na hora dela parar….

…Que venha o inverno…

…friozinho bom…